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Medicina

‘Chip da beleza’: implante não tem aprovação, pode alterar o clitóris e mudar a voz; veja 10 pontos


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Beleza sem esforço. Essa é a premissa atribuída ao uso dos implantes hormonais, popularmente chamados de ‘chips da beleza’. Especialistas ouvidos pelo g1 explicam o que é o implante hormonal e por que não recomendam seu uso para fins estéticos.

O uso do dispositivo está vinculado a possíveis efeitos terapêuticos no tratamento de sintomas da menstruação, menopausa, doenças dependentes do estrogênio (hormônio feminino) ou contracepção.

Contudo, ele se popularizou devido aos seus supostos efeitos colaterais, que podem incluir aumento de massa muscular, da libido e da disposição física.

Em nota divulgada no dia 8 de setembro deste ano (veja íntegra abaixo), a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) afirmou que não existem dados suficientes que validem o uso do dispositivo, seja para fins estéticos ou não.

“As Comissões Nacionais Especializadas de Climatério e de Anticoncepção da Febrasgo não recomendam os implantes hormonais manipulados não aprovados pela Anvisa, seja com a finalidade de realizar a terapêutica hormonal da menopausa ou anticoncepção, por escassez de dados de segurança, especialmente de longo prazo”, afirmou a Federação.

Até o momento, o único implante hormonal industrializado aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é o Implanon, nome comercial do implante anticoncepcional composto por etonogestrel.

Nesta reportagem, especialistas respondem as seguintes dúvidas:

  1. O que são implantes hormonais?
  2. Por que o implante de gestrinona foi criado?
  3. Existe recomendação médica para o uso dos implantes?
  4. O uso do implante hormonal é proibido?
  5. Por que o implante é chamado de chip da beleza?
  6. Há também efeitos colaterais negativos?
  7. Onde comprar implantes hormonais?
  8. Qual o custo dos implantes hormonais?
  9. Em qual parte do corpo o implante é inserido?
  10. Quanto tempo o implante dura no corpo?

1. O que são implantes hormonais?

 

São implantes de aplicação subcutânea, ou seja, sob a pele, que liberam um determinado hormônio lentamente no organismo.

Há uma diversidade de implantes disponíveis no mercado. O ‘chip da beleza’, em especial, é o nome dado aos implantes de gestrinona, um hormônio sintético da progesterona, que faz com que a testosterona (hormônio masculino) aumente.

2. Por que o implante de gestrinona foi criado?

 

Segundo a ginecologista Gabriela Pravatta Rezende, o uso da gestrinona na forma oral já é um velho aliado dos médicos no tratamento de algumas doenças que são dependentes de estrogênio, como a endometriose, miomas e adenomiose.

No organismo, a gestrinona atua como um inibidor de estrogênio, limitando sua atuação, ao mesmo tempo que estimula a produção de testosterona – motivo pelo qual ela é utilizada no tratamento de doenças que dependem do estrogênio.

“A gente usava gestrinona por via oral, mas a gente acabou deixando a gestrinona de lado porque foram sendo descobertas outras medicações que tinham um efeito bom no controle dessas doenças e menos efeitos colaterais”, afirma Rezende, que também é membra da comissão especializada em ginecologia endócrina da Febrasgo.

“Atualmente, alguns profissionais fazem uso da gestrinona na forma de implantes para o tratamento da endometriose e também pelo apelo na contracepção – embora, para esse último, não exista nenhum estudo no mundo que valide o implante hormonal como contraceptivo”, completa Rezende.

3. Existe recomendação médica para o uso dos implantes?

 

Devido à falta de evidências científicas, a Febrasgo afirma que não há recomendação médica para o uso dos implantes, “seja com a finalidade de realizar a terapêutica hormonal da menopausa ou anticoncepção, por escassez de dados de segurança, especialmente de longo prazo”.

Não há nenhuma indicação formal para implante de gestrinona, para nenhuma doença. Antigamente usávamos a gestrinona via oral em algumas doenças, como a endometriose, mas isso já caiu por terra. Não usamos nem via oral e nem por outras vias, devido aos efeitos colaterais e por termos medicações com melhor tolerabilidade e menos efeitos adversos”, explica Rezende.

 

Para a especialista que compõe a comissão especializada em ginecologia endócrina da Febrasgo, a não recomendação dos implantes está associada a falta de dados que informe com exatidão qual absorção e dose de liberação diária de hormônio pelos implantes.

Até o momento, os estudos disponíveis sobre o uso do implante são limitados e questionáveis. A maioria foi realizada em animais em laboratórios e os estudos em mulheres foram apenas observacionais, sendo necessário uma averiguação clínica, randomizada e com grupo de controle – em que um grupo de mulheres utiliza o implante e o outro não para ser os seus impactos.

Além disso, o estudo mais recente foi feito há 13 anos atrás, em 2008.

4. O uso do implante hormonal é proibido?

 

Não, apenas não é recomendado devido a falta de estudos e de evidências científicas.

5. Por que o implante é chamado de chip da beleza?

 

O implante de gestrinona não tem como finalidade embelezar ninguém. Popularmente, ele ganhou o apelido de ‘chip da beleza’ justamente porque os efeitos podem ser de ganho de massa muscular, aumento de disposição, aumento da libido”, explica a ginecologista Ana Lúcia Beltrame.

Mas não são todas as mulheres que podem sentir essas alterações ditas positivas no corpo. Estudos observacionais revelaram que o ganho estético dos implantes são favoráveis em um perfil específico de pacientes: mulheres magras, praticantes de atividade física e jovens.

Apelidado de 'chip da beleza' os implantes hormonais de gestrinona se popularizaram devido aos seus efeitos colaterais, que podem causar aumento de massa magra, libido e disposição física. — Foto: Divulgação

Apelidado de ‘chip da beleza’ os implantes hormonais de gestrinona se popularizaram devido aos seus efeitos colaterais, que podem causar aumento de massa magra, libido e disposição física. — Foto: Divulgação

6. Há também efeitos colaterais negativos?

 

Sim. O uso do hormônio masculino também está relacionado ao aparecimento de efeitos colaterais reversíveis (que desaparecem após o uso do implante ser descontinuado) e irreversíveis (que são permanentes) não tão desejados pelas mulheres.

Entre os efeitos colaterais reversíveis estão o inchaço, a queda de cabelo, aumento da acne e dos pelos corporais.

“Há também o risco da paciente adquirir efeitos colaterais irreversíveis, como o aumento do clitóris e alteração na voz. São efeitos mais raros, mas podem acontecer, principalmente se a quantidade de hormônio for suprafisiológica, ou seja, uma quantidade de hormônio muito grande”, explica Beltrame.

7. Onde comprar implantes hormonais?

 

Os implantes hormonais de gestrinona são adquiridos em farmácias de manipulação. Não existem implantes para pronta venda nas farmácias convencionais.

8. Qual o custo dos implantes hormonais?

 

“Os preços variam muito, mas é caro. Não é barato”, explica Rezende. A ginecologista não indica e nem insere implantes hormonais em seu consultório, mas explicou que os valores dos implantes podem variar bastante, uma vez que as pacientes terão que arcar com os custos da manipulação do implante e da inserção do dispositivo.

9. Em qual parte do corpo o implante é inserido?

 

É um implante hormonal de uso subcutâneo, ou seja, fica embaixo da camada superficial da pele. Para isso, os médicos fazem um corte superficial na pele – normalmente, nas nádegas – e inserem o implante, que se parece com uma haste de cotonete.

10. Quanto tempo o implante dura no corpo?

 

Há dois tipos de implantes: os absorvíveis, que duram de quatro a seis meses, e os não-absorvíveis, que são feitos de silicone e duram, em média, um ano. Terminado esse período, os implantes feitos com silicone precisam ser substituídos.

Posicionamento da Febrasgo

 

Veja abaixo na íntegra a nota da Febrasgo:

“Posição das Comissões Nacionais Especializadas de Anticoncepção e Climatério da Febrasgo sobre implantes hormonais

08 de setembro de 2021

As Comissões Nacionais Especializadas de Climatério e de Anticoncepção da Febrasgo entendem que não há dados suficientes publicados na literatura médica a respeito da eficácia e da segurança de implantes hormonais, muitas vezes chamados de “chips”, com os mais diversos conteúdos hormonais, tais como estradiol, testosterona, gestrinona, DHEA entre outros.

Em procura em bases de dados de trabalhos científicos, tendo a PubMed como a principal, o número de estudos com tais tipos de implantes é bastante reduzido e geralmente com pequeno número de participantes. Exceção é o implante anticoncepcional de etonogestrel industrializado e aprovado pela ANVISA disponível comercialmente e o de estradiol (não mais comercializado).

Mesmo considerando a existência de alguns poucos estudos com maior número de participantes que usaram implantes manipulados, a metodologia destes estudos apresenta limitações e, além disso, não é possível generalizar esses resultados aos implantes disponíveis no território brasileiro, por escassez ou falta de publicações de informações detalhadas destas preparações.

Embora a gestrinona possua ação antiovulatória, não existem, em todo o mundo, estudos para a aprovação regulatória do fármaco com finalidade contraceptiva. No presente momento, não há disponível no mercado brasileiro, implante hormonal industrializado aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com exceção o implante anticoncepcional composto por etonogestrel.

Portanto, as Comissões Nacionais Especializadas de Climatério e de Anticoncepção da Febrasgo não recomendam os implantes hormonais manipulados não aprovados pela ANVISA, seja com a finalidade de realizar a terapêutica hormonal da menopausa ou anticoncepção, por escassez de dados de segurança, especialmente de longo prazo. As Comissões Nacionais Especializadas de Climatério e de Anticoncepção da Febrasgo seguem atentas a este assunto e caso novas informações científicas mudem este cenário, voltarão a se posicionar.”

G1.globo.com

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